RESPEITO À DIVERSIDADE É UM DIREITO HUMANO
A ideia de que se era possível garantir um certo respeito a individualidades estava em circulação na Europa em meados do século XVIII culminando em 1789, na França, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. A partir de então o reconhecimento dos direitos humanos se fortaleceu expandindo-se, tanto por meio das constituições nacionais dos Estados, quanto por meio de normas internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pelas Nações Unidas, em 1948.
Educar é imprescindível
A Educação tem um papel fundamental com relação ao entendimento, pelos cidadãos e cidadãs, do valor de contribuição dos Direitos Humanos. E é ela quem poderá ajudar no processo de fundamentar um diálogo entre todos, inclusive o inter-religioso. Para o educador Paulo Freire o diálogo se faz possível com base no amor e na esperança. Amor que permite a empatia e ir além de si mesmo e a esperança que coloca uma vontade de práxis no mundo1. Para a teóloga Pui-Lan ela acredita que o melhor termo seria “interfé” 2. Assim o diálogo poderia se fundamentar com mais força no âmbito do sagrado independentemente das religiões.
1 – Da esquerda para direita: Lia Bergmann, assessora de Direitos Humanos, (quinta na foto) e Gisele Kusniec Valdstein, presidente da BB – SP, (gestões 2004-2005/2006-2007) representando a B’nai B’rith, em Ato Inter-religioso, com delegados de Polícia de todo o Estado de São. São Paulo, 08.07.2013. Fotógrafo não identificado. Base de Dados BB Brasil – Legado.
2 – Participantes do I Fórum Paulista Inter-Religioso: Liberdade de Crença. São Paulo, 26.10.2005. Fotógrafo não identificado. Base de Dados BB Brasil – Legado.
3 – Encontro de lideranças religiosas e comunitárias da Iniciativa das Religiões Unidas (URI), em São Paulo, com representantes internacionais, 2018. Fotógrafo não identificado. Base de Dados BB Brasil – Legado.
4 – B’nai B’rith, representada por Lia Bergmann (6ª da esq. para dir.), assessora de Direitos Humanos da B’nai B’rith, na 4ª Conferência Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, promovida pela Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, através da Coordenadoria de Políticas para a População Negra e Indígena (CPPNI), Palácio dos Bandeirantes, SP, 12 e 13.01.2018. Fotógrafo não identificado. Base de Dados BB Brasil – Legado. SP
A esfera pública
Também é importante tratar o tema do diálogo na esfera pública e garantir uma visão contra-hegemônica a partir dos direitos humanos incorporando diversas formas de se cultivar o espiritual, como nas cosmo-visões dos indígenas, no candomblé, na umbanda, no xamanismo, no catolicismo, no budismo, no hinduísmo, no islamismo, no protestantismo e no judaísmo, entre outras religiões.
B’nai B’rith Brasil e o Diálogo Inter-religioso
Como a BB Brasil é uma entidade que atua pela preservação e respeito aos Direitos Humanos, sem esquecer dos deveres, entende que sua atuação é não somente a de engajar-se num diálogo, mas de garantir a existência de diálogo. Neste sentido sua atuação é imprescindível uma vez que trabalha para articular órgãos do Estado que podem na esfera pública colaborar para uma eficiência cada vez maior.
Foi com este intuito que membros da B’nai B’rith SP, os casais Hugo e Janina Schlesinger (Z’L) (avós do Rabino Michel Schlesinger), Hans e Edda Bergmann (Z’L) o Rabino Fritz Pinkuss (Z’L), A.Bertie Levi (Z’L) e Carlos Alberto Levi (Z’L) entre outros criaram o Conselho de Fraternidade Cristão-Judaico, entidade pioneira no diálogo inter-religioso, anterior ao Concílio Vaticano II.
No Rio de Janeiro, a participação no Diálogo vem sendo ativa há mais de 40 anos, com a participação do Leon Mayer e atualmente, pela Dra. Denise Tredler.
Outros órgãos que vão representar o diálogo e suas proposições na esfera pública são: a Comissão Especial de Liberdade Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil; a Comissão de Liberdade Religiosa da Secretaria de Justiça do Município de São Paulo e o Conselho Parlamentar pela Cultura de Paz da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.
A B’nai B’rith também participou da elaboração e promoção, com apoio do Dr. Raul Meyer, da Lei da Liberdade Religiosa apresentada pela Deputada Estadual Dra. Damaris Moura, sendo aprovada na Assembleia Legislativa de São Paulo e promulgada pelo Governador. O único Estado da Federação que conta com uma Lei destinada a este tema.
Diálogo visando um mundo melhor
O exercício do Diálogo para muitos ativistas perpassa o das religiões e fé, ele adentra no campo moral, de manifestações e contestações da injustiça social num mundo globalizado. Pauta que tem sido abordada por líderes mundiais e que tem o desafio maior de levar um maior entrosamento e diálogo para que possamos tratar de questões mundiais comuns a todos como é o cuidado com o meio ambiente. As religiões contribuíram nesse sentido com a elaboração da Carta da Terra, aprovada em 2000, em Paris, com a participação de mais de 46 países e mais de 100.000 pessoas.
5 – Abraham Goldstein, presidente da B’nai B’rith – Brasil, Distrito 25, fala na Comissão Parlamentar de Liberdade Religiosa, em Ato Inter-religioso, coordenado pela Dra. Damaris Dias Moura Kuo (a sua direita), na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, 2015. Fotógrafo não identificado. Base de Dados BB Brasil – Legado.
6 – I Fórum Paulista Inter-Religioso: Liberdade de Crença. Compondo à mesa, lideranças religiosas, e no púlpito, Hedio da Silva Junior, secretario da Justiça e da Defesa da Cidadania. São Paulo, 26.10.2005. Fotógrafo não identificado. Base de Dados BB Brasil – Legado.
7 – Da esquerda para a direita: Luciana Feldman; Janina Schlesinger, sobrevivente do Holocausto e irmã da B’nai B’rith; o cônego José Bizon, diretor da Casa da Reconciliação, entidade da Arquidiocese de São Paulo; Hans Bergmann, presidente da B’nai B’rith – São Paulo (gestão 1988); Rachel Gotthilf, sobrevivente do Holocausto e irmã da B´nai B´rith e Zeila Sliozbergas, presidente da BB – SP (gestão 2016-2019), durante a Sessão Solene na Câmara Municipal de São Paulo, em homenagem aos Heróis do Holocausto. 05.2015 Fotógrafo não identificado. Base de Dados BB Brasil – Legado.
8 – Reunião preparatória das comemorações no Brasil dos 50 anos do Concílio Vatican II, com Dom Odilo Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo, na Cúria Metropolitana. A esquerda do cardeal, Ricardo Berkiensztat, presidente executivo da FISESP; à sua direita, o rabino da Congregação Israelita Paulista Michel Schlesinger, representante da Confederação Israelita do Brasil para o diálogo inter-religioso. Entre os presentes, da esq. para dir.: Edgar Lagus, presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALESP; ladeado por Abraham Goldstein, presidente da BB – Brasil, Distrito 25. A 1ª à dir., a educadora Miriam Markus. 20.01.2014. Fotógrafo não identificado. Base de Dados BB Brasil – Legado.
Contra o esquecimento
Em 2008, as lojas de Porto Alegre, RS, Barão Hirsch e Iehuda Halevi em parceria com o Instituto Cultural Judaico Marc Chagal, realizaram um evento que recebeu cerca de 100.000 visitantes por meio de agendamentos com mais de 100 escolas municipais e estaduais! Este evento contou com as exposições “Anne Frank, Uma História para Hoje”, desenhos e poemas de crianças do campo de concentração de Terezin (Tchecoslováquia) e mostra de fotografias sobre Direitos Humanos. Além das exposições, foram realizadas mesas redondas sobre os temas “Violência e Racismo” e “Preconceito e Exclusão – a banalização do mal na II Guerra Mundial. O mundo aprendeu?”
9 – B’nai B’rith, representada por Lia Bergmann, assessora de Direitos Humanos, participa de Ato contra a Intolerância Religiosa, e transmite apoio da entidade a menina Kayllane Campos (sentada), homenageada na Assembléia Legislativa de São Paulo por ter sido atingida por uma pedra após festa de Candomblé. 29.06.2015. Fotógrafo não identificado. Base de Dados BB Brasil – Legado.
10 – Da esquerda para a direita: Eliane Dias, coordenadora do SOS Racismo; Lia Bergmann, assessora de Direitos Humanos da B’nai B’rith, homenageada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, pelo seu trabalho inter-religioso para uma Cultura de Paz;
11 – Lia Bergmann, assessora de Direitos Humanos, fala sobre costumes judaicos a delegados de Polícia, em preparação para as Olimpíadas e grandes eventos, na Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo. 2015. Fotógrafo não identificado. Base de Dados BB Brasil – Legado.
Notas
1 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 50 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
2 PUI-LAN, Kwok. Globalização, gênero e construção da paz: o futuro do diálogo interfé. São Paulo: Paulus, 2015.
Depoimento de Edgar Lagus, Vice-presidente BB Brasil, Distrito 25
Qual a importância do Diálogo Religioso nos dias de hoje ?
“O diálogo inter-religioso é para mim, fundamental, como exercício da cidadania e da cumplicidade com outras religiões, mesmo para os declaradamente ateus, sejam elas quais forem, todos/as têm direito de se expressar e devemos respeitar uns aos outros.
Hoje em dia, não tem como existirmos de forma isolada e não somos um povo único. Nós existimos porque somos diferentes uns dos outros, assim como as cores de uma caixa de lápis, mesmo sabendo que existem as cores básicas, nós precisamos das misturas.
Qual a contribuição deste evento para com a área de Direitos Humanos?“
O evento neste ano celebrará os 90 anos da B´nai B´rith e o Diálogo Inter-religioso. Teve início com os esforços dos membros da B’nai B’rith e seus parceiros na construção de um diálogo franco e aberto, inicialmente, com a Igreja católica, onde se construíram as bases da Enciclica Papal, Nostra Aetate, 28 de outubro de 1965, onde os judeus deixam de ser acusados de deicídio.
Tudo muda após isso.”Assim abre-se uma porta de diálogo franco, onde outras religiões sentam-se a mesa para conversar, e entendemos que temos mais em comum, e pouquíssimas coisas em incomum.”
A seu ver qual o papel da B’nai B’rith nesta área? O que ela tem ajudado?
“Nossa participação sempre foi de vanguarda, propondo temas e novas abordagens.
Nossa presença e voz têm sido uma constante porque atuar em prol da liberdade religiosa, da convivência no pluralismo e da paz está na essência da missão da B’nai B’rith no Brasil e no mundo.”
Qual sua expectativa para o Encontro a ser realizado em 13.02.2023 às 19h, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo ?
“Gostaríamos que cada uma das religiões estivesse presente, o que tornaria um evento único, de grande felicidade. E para provocar a reflexão sobre a importância da união eu costumo usar essa parábola:
Quando vieram buscar os comunistas, eu fiquei em silêncio; eu não era comunista.
Quando prenderam os sociais-democratas, eu fiquei em silêncio; eu não era um social-democrata.
Quando vieram buscar os sindicalistas, eu não disse nada; eu não era um sindicalista.
Quando buscaram os judeus, eu fiquei em silêncio; eu não era um judeu.
Quando vieram me buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar.”
Saiba mais: www.bnai-brith.org.br
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