Após quase 40 anos de sanções econômicas e de isolamento político imposto pelo Ocidente, o Irã dá um importante passo para reintegrar-se ao sistema internacional neste final de semana, quando os EUA e a União Europeia começam a levantar as sanções. A Alemanha já sinalizou que levará tempo para retomar relações com o país e os iranianos estão céticos. Interessante a análise geopolítica de Igor Gielow, na Folha de São Paulo.
A sobriedade nas declarações e a falta de fanfarras, notáveis dentro do padrão diplomático da administração de Barack Obama, demonstram o quão sérias são as implicações do primeiro passo de implementação do acordo nuclear com o Irã. Se os dúbios efeitos na indústria do petróleo são os mais evidentes, eles têm de ser inseridos no contexto da disputa entre Arábia Saudita e Irã pela influência no Oriente Médio —e, por extensão, em outras áreas do mundo islâmico. O conhecimento da iminência da ratificação do acordo, provavelmente alimentado por boa inteligência e/ou informações privilegiadas, faz todo o movimento dos sauditas desde o começo do ano se encaixar numa narrativa de ataque preventivo. Como se sabe, Riad executou um clérigo xiita, levando a uma reação no Irã que culminou com um ataque à sua embaixada. A desculpa para o rompimento de relações diplomáticas, e o estabelecimento de linhas mais claras de interesses por parte das duas potências muçulmanas, estava dado. Os próprios EUA, ao estabelecer novas sanções devido ao programa de mísseis de Teerã, quis deixar claro que a histórica abertura ao antigo rival não quer dizer liberdade total de ação, além de acenar ao problemático aliado Israel. Tel Aviv vê como uma ingenuidade o movimento americano de convidar Teerã a ser um ator normal do cenário internacional, de resto um tipo de engajamento que parece lógico, mas enfrentará a realidade com os prepostos iranianos na Síria, Líbano e Faixa de Gaza. Pela retórica dos aiatolás, Israel tem seus motivos para se preocupar. Se a bomba atômica ficou para outra hora, a tendência é de que o Irã vá incrementar suas encomendas de valiosos sistemas de defesa aérea da Rússia, equalizando aos poucos o balanço militar convencional com o Estado judeu.
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