Os Judeus e o Monte do Templo
Por Zachi Dvira
EDIÇÃO ESPECIAL INTERNACIONAL DA RUA JUDAICA
Modelo do Segundo Templo no Museu Israel
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) adotou, na quinta-feira (13 de outubro), uma resolução tendenciosa e política que desconsidera a histórica ligação do judaísmo com o Monte do Templo, lança dúvidas sobre a conexão dos judeus com o Muro das Lamentações e protesta contra as tentativas da Autoridade de Antiguidades de Israel (AAI) de fiscalizar as obras sobre e ao redor do Monte do Templo a fim de preservar antiguidades e outros dados arqueológicos.
Essa é uma resolução puramente política que foi formulada por funcionários palestinos e que foi aceita pela Unesco exatamente como foi escrita. Ela busca apenas presevar a herança do Islã e, mesmo que isso seja importante, a Unesco não deve fazê-lo às custas do patrimônio cultural judaico e cristão. Essa resolução não reconhece a realidade diária de Jerusalém e do Monte do Templo. E sua agenda política se opõe à carta e à missão da própria Unesco de proteger e promover a ciência, a cultura, a educação e o patrimônio cultural.
Os eventos nas últimas décadas provam que as autoridades muçulmanas que atuam no Monte do Templo através da Waqf, que estão oficialmente sob os auspícios da Jordânia, mas, na prática, são controlados pela Autoridade Palestina e pelo Hamas, não se importam em preservar nem mesmo seu próprio patrimônio arqueológico ou promover a educação, a ciência e a cultura no local.
Em 1999, as autoridades muçulmanas escavaram um gigantesco poço na área sudeste do Monte do Templo, usando retroescavadeiras e removendo 400 caminhões de terra. Isso foi feito sem nenhum controle ou supervisão arqueológica. Consequentemente, nós estabelecemos o Temple Mount Sifting Project (Projeto de Peneiração do Monte do Templo) para salvar, preservar e estudar a vasta quantidade de artefatos arqueológicos que foi enterrada nesse solo e descartada. Nós recuperamos centenas de milhares de artefatos desse solo escavado, datando dos períodos do Primeiro e do Segundo Templos e de depois deles, incluindo artefatos das eras cristã e muçulmana que foram descartados.
Um artefato muçulmano muito interessante que foi achado, datado do século XVIII, é o selo de um proeminente Qafi (juíz) muçulmano, que também serviu como vice-Mufti de Jerusalém. Seu nome era Xeque ‘Abd al-Fattah al-Tamimi. O atual administrador da Waqf, Xeque Mohammed Azzam al-khatib al-Tamimi, é da mesma família e pode ser um de seus descendentes. É irônimo que arqueólogos judeus são quem preservam a herança da Waqf islâmica que foi negligenciada e descartada pela própria Waqf.
O selo do século XVIII do Xeque ‘Abd al-Fattah al-Tamimi
A existência de Templos Judaicos está acima de qualquer dúvida. Há evidências substanciais nas numerosas fontes históricas que os viram, incluindo historiadores pagãos que não foram influenciados pela tradição judaica-cristã, como Beroso (século III A.C.), Menandro de Eféso (século II A.C.), Hecateu de Abdera (cerca de 300 A.C.), Mmaseas de Patara (cerca de 200 A.C.), Deodoro da Sicília (século I A.C.), Strabo (século I A.C.), Tácito (século I A.C.) e muitos outros.
Mesmo que não seja possível, em meio ao atual clima político, conduzir uma excavação arqueológica adequada no Monte do Templo, há muitos achados arqueológicos que apoiam o fato que é quase universalmente aceito: ele é o local dos Templos Judaicos. Muitos dos artefatos vêm do Temple Mount Sifting Project e muitos outros podem ou ser observados até hoje no Monte do Templo, foram encontrados acidentalmente durante restaurações ou foram achados em escavações arqueológicas dos sítios adjacentes.
Abaixo, exemplos de artefatos dentre muitos outros:
Inscrição de alerta do Templo – Em 1981, o arqueólogo francês Clermont-Ganneau encontrou uma inscrição grega de alerta a gentios para que não entrassem nos aposentos internos no complexo do Templo. Esse tipo de inscrição também foi testemunhada pelo historiador Flávio Josefo, do século I (Guerra 5, v, 2; Guerra 6, ii, 4; Antiguidades 15, xi, 5).
A inscrição de Beit Hatkiá – O professor de arqueologia Benjamin Mazzar encontrou, em 1972, essa inscrição em hebraico que tinha caído do canto sudeste inferior do Monte do Templo e foi achado nos escombros que estavam sendo escavados por arqueólogos nas proximidades. A pedra contém a inscrição “lebeit hatkiá lehachriz”, que quer dizer “à casa do tocar da trombeta para anunciar”. Historiadores judeus e fontes rabínicas descrevem o costume de tocar trombetas do Monte do Templo para anunciar a hora do shabat (o sábado judaico) e dos dias santos (Sucá 5: 5; Talmud Shabat babilônio 35: 2; Tosefta Sucá 4; Guerras IV, X, 12).
Selo DKA LYH – Em 2011, o arqueólogo Eli Shukrun encontrou um pequeno objeto de barro cozido carimbado com as letras hebraicas: ??? ??? (“DKA LYH” or ”Deka Leyah”). O objeto foi achado num túnel de drenagem no sopé do extremo sul do Muro das Lamentações. O estudioso talmúdico Shlomo Naeh mostrou convincentemente que esse é um objeto único que era usado como uma ficha/voucher que permitia aos sacerdotes do Templo controlar o comércio relacionado às ofertas de sacrifício realizadas no local. Essa prática é documentada na Mishná, o primeiro documento escrito da Lei Oral Judaica, datada de cerca de 200 D.C. (Shekalim 5: 3-5). A inscrição sobre o selo marca o tipo de sacrifício: “Dechar” (carneiro), “Aleph” (primeiro dia da semana) e “Yehoryariv” (uma das 24 famílias sacerdotais que trabalhavam em turnos no Templo).
Sino dourado do Sumo Sacerdote – Na mesma escavação de Eli Shukrun no túnel de drenagem, um sino dourado foi encontrado, datando do período do Segundo Templo. Não há precedente para esse artefato em nenhuma escavação em Israel. Nosso único conhecimento de tal objeto é da descrição bíblica dos sinos costurados ao traje vestido pelo sumo sacerdote (Ex. 28:33-34).
Mikvaot – Numerosas mikvaot (banheiras rituais judaicas de imersão para purificação) foram encontradas nas áreas em torno do Monte do Templo. Há também cavidades subterrâneas documentadas sobre o Monte do Templo que foram inspecionadas por exploradores no século XIX. Uma cisterna menos conhecida que está localizada diretamente debaixo da mesquita de Al-Aqsa foi encontrada pelo Departamento de Antiguidades do Mandato Britânico nos anos 40 do século XX, mas não foi publicada. Nós encontramos a documentação dessa mikve nos arquivos do Departamento de Antiguidades Britânico e publicado em 2008.
Arquitetura Herodiana – Diversas localidades sobre o Monte do Templo, especialmente os saguões de entrada do Portão Duplo sob a mesquita de Al-Aksa, preservam até hoje um dos melhores exemplos da arte herodiana gravada em pedra. Muitos portões do Monte do Templo atual ainda preservam residuos dos portões do período final do Segundo Templo.
Seção do Muro Oriental do período do Primeiro Templo – As pedras mais baixas ao norte e ao sul do Portão Dourado do muro oriental são datadas por pesquisadores do Monte do Templo do período do Primeiro Templo (ver Leen Riymeyer, A Busca 2006). A elaboração dessas pedras se assemelha a pedras de alvenaria de muros em outros locais datados do período do Primeiro Templo.
Depósito de lixo no período do Primeiro Templo nas encostas orientais do Monte do Templo – Em 2009, nós encontramos um depósito de lixo antigo nas encostas orientais do Monte do Templo que revelou um rico material arqueológico datado do século 10 A.C. (o tempo do Rei Salomão) até o século VII A.C. Os achados incluem uma rara impressão de selo com uma inscrição que descreve uma taxa que foi dada ao rei da cidade de Gibe’on. De acordo com as descrições bíblicas, a casa do rei também era situada no Monte do Templo.
Coleção do período do Primeiro Templo encontrada na vala de fios elétricos da Waqf – Durante a escavação de uma vala da Waqf, em 2007, supervisionada pela Autoridade de Antiguidades de Israel, uma rica coleção de artefatos do Primeiro Templo foi encontrada ao sudoeste do platô elevado do Monte do Templo. Ela incluia cerâmicas, ossos e fragmentos de estatuetas que datam do século VI A.C., os últimos dias do período do Primeiro Templo.
Uma cisterna de água no canto sudeste do platô elevado – Uma grande cisterna de água subterrânea documentada por pesquisadores do século XIX foi recentemente datada, pelo arqueólogo Tzvika Tzuk, como sendo do período do Primeiro Templo, de acordo com cisternas de água descobertas em outros sítios semelhantes em forma.
Artefatos do solo descartado do Monte do Templo
Os objetos abaixo foram encontrados peloTemple Mount Sifting Project:
Impressão de selo Immer – A mais direta evidência já encontrada do Primeiro Templo vem de uma pequena impressão de selo feita de argila que foi originalmente anexada a um saco de tecido, possivelmente contendo prata ou ouro. No selo há a inscrição: “(Pertencente a)… […]lyahu (filho de) Immer”. A família Immer foi uma família sacerdotal muito conhecida no período final do Primeiro Templo, por volta dos séculos VII e VI A.C. “Pashur filho de Immer” é mencionado na Bíblia como “Diretor da Casa de Deus” (Jer. 20:1). Pode-se supor que esse objeto selou alguns dos preciosos produtos que eram mantidos no tesouro do Templo, que era administrado pelos sacerdores. Esse selo é a primeira evidência de escrita hebraica antiga do Monte do Templo e da atividade administrativa que acontecia no Primeiro Templo.
Artefatos do tempo do Rei Salomão – Alguns dos artefatos encontrados pelo Sifting Project datam dos séculos X e IX A.C., o tempo do Rei Salomão, construtor do Primeiro Templo, e de seus sucessores. Esses artefatos são raros em Jerusalém e eles trazem à tona evidência crítica no intenso debate sobre o tamanho de Jerusalém nesse período. Alguns estudiosos, no passado, duvidaram de que o Monte do Templo era anexado a Jerusalém durante o século X A.C. Eles sugeriram que Jerusalém não era uma cidade capital, mas sim um pequeno vilarejo. Esses artefatos contradizem essa afirmação minimalista e confirmam o relato bíblico sobre Jerusalém nesse período. Esses achados incluem cacos de cerâmica, um raro selo de pedra e um rara ponta de flecha.
Moeda de meio shekel de prata – Do período do Segundo Templo, o Sifting Project recuperou mais de 800 moedas judaicas. Muitas dessas moedas do fim do período do Segundo Templo parecem ter sido queimadas, provavelmente como resultado do incêndio que levou à destruição do Templo. Uma descoberta particularmente emocionante é uma rara moeda de prata cunhada durante o primeiro ano da Grande Revolta Judaica contra Roma (66/67 D.C.). A moeda mostra um ramo com três romãs e uma inscrição em hebraico antigo que diz “Jerusalém sagrada” (?????? ????). O outro lado da moeda mostra vasos do Templo com a inscrição “meio shekel” (??? ????).
Essas moedas de meio-shekel eram usadas para pagar a taxa do Templo durante a Grande Revolta, substituindo o shekel Tiriano usado previamente. Parece que essas moedas de meio-shekel foram cunhadas pelas autoridades do Templo no próprio Monte do Templo. Essa taxa de meio-shekel para o santuário, mencionada no Livro do Êxodus (30:13-15), era paga por todo homem ao Templo Sagrado uma vez por ano. Nossa moeada de meio-shekel é bem preservada mas mostra cicatrizes do incêndio que destruiu o Segundo Templo em 70 D.C.
Cacos de Menorá — Um caco com um símbolo que se assemelha à menorá do Templo foi encontrado na peneiração. Baseado em seu tipo de cerâmica e textura, o cado data do período do domínio Bizantino sobre Jerusalém, de 324 a 640, ou do começo do período islâmico (séculos VII e VIII), mostrando que até mesmo nessa época havia uma ligação com o Templo judaico que foi destruído.
Rica pavimentação dos pátios do Templo de Herodes – Dezenas de azulejos de pedra opus sectile (intársia de pedra) foram encontrados pelo projeto de peneiração. Opus sectile (em latim: “trabalho cortado”) é a técnica de pavimentação de pisos em ricos padrões geométricos usando azulejos coloridos meticulosamente cortados e polidos. Muitos dos azulejos foram datados do final do período do Segundo Templo com base em azulejos semelhantes encontrados em palácios de Herodes. Suas dimensões são baseadas em fracções do pé romano (cerca de 29,6 cm). O historiador Flávio Josefo, escrevendo sobre os pátios abertos ao redor do Templo, disse: “Esses pátios inteiros que eram expostos ao céu eram cobertos por pedras de todos os tipos” (Guerra dos Judeus 5:2). Ultimamente, temos conseguido reconstruir alguns dos padrões desses pisos especiais usando princípios geométricos e através de semelhanças encontradas em desenhos de pisos usados por Herodes em outros locais.
Ligação judaica com o Monte do Templo depois da destruição do Templo
As fontes rabínicas judaicas indicam que o local era foco de orações e pensamentos dos judeus durante todos os séculos depois da destruição do Segundo Templo (70 D.C.). Além disso, muitas inscrições (grafites) foram encontradas dentro do Monte do Templo, feitas por peregrinos judeus durante os períodos medievais. Isso apesar das dificuldades e do banimento à visitação e à moradia de judeus em Jerusalém. Essas inscrições indicam uma ligação contínua do Povo Judeu com seu local mais sagrado.
Documentos que foram encontrados na Guenizá do Cairo nos falam de residentes judeus de Jerusalém durante o começo do período islâmico que tinham o costume de rodear o Monte do Templo e rezar em frente ao portão do Monte do Templo. Um dos mais proeminentes rabinos judaicos na Era Medieval, o Rambam, escreveu que ele entrava no Monte do Templo e fazia um jejum privado anual por essa ocasião.
Sumário
Como mencionado acima, de acordo com fontes históricas abrangentes e tradições judaicas, cristãs e muçulmanas sobre o Monte do Templo, não há necessidade de evidência arqueológica para provar a existência do Templo Judaico sobre o Monte do Templo. Infelizmente, a ideologia de Negação do Templo, que foi criada 20 anos atrás e promovida por políticos e líderes religiosos palestinos, conseguiu se expandir para alguns pesquisadores árabes e, aparentemente, também foi adotada agora pela Unesco. Já que eles alegam que nunca foram encontrados artefatos arqueológicos provando a existência dos Templos judaicos sobre o Monte do Templo, é importante mostrar esses artefatos muito reais ao público em geral.
* Zachi Dvira (Zweig) é um arqueólogo e um dos diretores do Temple Mount Sifting Project, juntamente com Gabriel Barkay. Dvira é também ativo na luta para evitar a destruição de antiguidades sobre o Monte do Templo.
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