O diálogo inter-religioso iniciou-se na França logo após a 2a. Guerra Mundial com os encontros entre católicos e judeus, promovidos pelos religiosos de Sion, com objetivo de se opor a tudo o que significava o nazismo e a barbárie do Holocausto.
Em 1962 foi convocado o Concílio Vaticano II, pelo Papa João XXIII, que promulgou em 1965 o documento Nostra Aetate para por fim aos desentendimentos religiosos em relação ao judaísmo, retirando todas as possíveis acusações e referências nos textos religiosos sobre a culpabilidade dos judeus pela morte de Jesus.
No Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, o diálogo católico-judaico começa bem antes do Concílio Vaticano II, ainda no idos de 1950, principalmente no Governo Juscelino Kubitshek. Em praticamente todos os grandes eventos, o Presidente Kubitshek comparecia ladeado por D. Helder Câmara e pelo Grão-Rabino Henrique Lemle, fundador da Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro – ARI.
Naqueles anos, realizam-se as primeiras reuniões entre judeus e católicos – de um lado ARI e B’nai B’rith, do outro, Arquidiocese e Irmãs de Sion. O diálogo, ainda incipiente, vai tomando forma, fortalecido pelo crescimento dos Conselhos de Fraternidade que surgem mundo afora.
Os Conselhos atuam no sentido de promover o diálogo e o conhecimento do outro, tendo como base que o desconhecimento gera o preconceito.
Em São Paulo, desde 1961 judeus e católicos se reúnem com o propósito de criar o Conselho de Fraternidade Cristão-Judaica, o que acontece no ano seguinte. Neste processo, são fundamentais a Congregação Israelita Paulista – CIP, com o Rabino Fritz Pinkuss, Hella Moritz, e a B’nai B’rith, com seu Presidente na época, Carlos Alberto Levi, assim como Bertie Levi, citado como “verdadeira alma do movimento em formação”.
Pelo lado católico, Pe. Calixto Vendrame, religioso camiliano e Irmã Alda, das religiosas de Sion. Os 50 anos do Conselho paulista foram comemorados em 2012 com diversas atividades.
Hugo e Janina Schlesinger, Edda Bergmann e Hans Bergmann, Edgar e Deborah Lagus são alguns dos membros da B’nai B’rith que ao longo destes 53 anos atuaram em prol do diálogo. Hugo e o Pe. Humberto Porto publicaram juntos diversos livros sobre tema. Muitos são os que contribuíram pelos lados católico e protestante e a eles só temos a agradecer. O Conselho continua suas atividades aberto a todos que queiram contribuir, destacando-se as celebrações conjuntas do Seder e de Chanucá.
Em 2014, um Ato em Lembrança da Noite de Cristal foi realizado em conjunto com a B’nai B’rith, lotando o auditório, com mais de cem pessoas.
No Rio de Janeiro, em 24 de junho de 1964, no Colégio Sion, é oficialmente instalado o primeiro Conselho, composto por judeus, católicos e protestantes. Quatro meses mais tarde, na ARI, é realizado o primeiro A B’nai B’rith e o diálogo cristão-judaico encontro da Fraternidade no qual a B’nai B’rith desempenha um papel de destaque, na defesa dos direitos humanos e do diálogo.
Com a publicação da Declaração Nostra Aetate, continuam as tratativas de intercâmbio e colaboração entre os dois credos, dificultadas pelo momento político que via, no diálogo inter-religioso, a possibilidade de incentivar resistências e protestos.
Cientes da necessidade de manter vivo o trabalho já empreendido, ARI, B’nai B’rith e Arquidiocese, continuam os encontros em busca de um entendimento maior até o momento em que é criado, pela CNBB, em 1982, o Diálogo Católico-Judaico. A partir deste momento, os interlocutores da Arquidiocese são oficialmente a ARI e B’nai B’rith.
Salientamos a participação de Leon Mayer, vice-presidente da B’nai B’rith Brasil (Região Centro), Diane Kuperman, Felix Fogel, em ter outros e pelo lado católico do Pe. Jesus Hortal, da PUC/RJ e das Irmãs de Sion.
A partir da formalização das relações católicas judaicas, B’nai B’rith e ARI têm trabalhado arduamente na consolidação do diálogo.
Entre as muitas atividades e conquistas salientamos:
1 – “Vizinhos de Portas Abertas” – com alunos dos colégios A. Liessen e Sto. Inácio, com encontros e trocas regulares. O ápice deste programa foi a viagem da Marcha da Vida (Polônia/Israel),
2 – Assembleias Nacionais do Diálogo Cristão-Judaico,
3 – Organização das visitas dos Papas João Paulo II e Francisco,
4 – Fundação da Juventude Inter-Religiosa do Rio de Janeiro – JIRJ, dada
5 – Ampliação do Diálogo Católico-Judaico a outras religiões, desde o início do século 21, do Islã às religiões de matriz africana.
A salientar, a presença na ARI de todos os arcebispos do Rio, a partir de D. Eugenio Salles, D. Euzebio Scheid e D Orani Tempesta. Houve ainda a presença inédita de Sheiks, babalaôs e mães de santo.
Hoje, a B’nai B’rith, a maior e mais antiga Organização Não Governamental judaica de Defesa dos Direitos Humanos, integra diversos fóruns inter-religiosos nacionais e internacionais, com o objetivo de trabalhar para um mundo melhor, mais justo e pela paz entre os homens.
Muito obrigado a todos que atuam neste diálogo!
O diálogo é a única forma de convivência possível. Respeitando as diferenças e celebrando o que nos une.
Abraham Goldstein
Presidente Nacional
Lia Bergmann
Assessora de Direitos Humanos e de Imprensa
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