Um Alemão no Clube Adolpho Bloch

Israel Blajberg, Rio de Janeiro

Domingo 22 de abril de 2018. O Brasil foi descoberto há 518 anos. Para tanto, muito colaboraram os judeus. Tanto os da Escola de Sagres, que ajudaram a lançar as bases das grandes navegações, quanto aqueles que aqui chegaram a bordo das caravelas de Cabral. Um deles, Mestre João, o astrônomo da frota, foi o primeiro a avistar uma constelação, a que deu o nome de Cruzeiro do Sul.
Por uma dessas coincidências, nessa manhã luminosa, o Clube Adolpho Bloch sediou as comemorações dos 70 anos da Independência do Estado de Israel.

Uma cerimonia tão singela quanto importantíssima aconteceu. O Prefeito Marcello Crivella subiu ao palco e assinou o termo de doação do terreno onde será erguido o Memorial do Holocausto, no alto do Mirante do Pasmado, por cima do Túnel Novo, com acesso por uma suave ladeira ao lado da Sinagoga da ARI, onde hoje já existe um busto do Primeiro Ministro Itzhak Rabin, no Parque que leva seu nome.

O capital simbólico desse memorial para o Rio é imenso, pois será o primeiro do Brasil. Lá no alto, embalada pelo vento que vem da Baia de Guanabara, tremula uma Bandeira do Brasil. Associada ao memorial, poderia ser vista como homenagem às forças brasileiras que lutaram contra o nazismo, a força maligna que provocou o Holocausto.

No mundo inteiro há inúmeros monumentos dessa natureza; finalmente aqui no Brasil também teremos esse marco, que serve de alerta para que nunca mais aconteçam tragédias assim. Contra quem quer que seja, em nenhum lugar.

Tantas cidades importantes do mundo tem um Memorial do Holocausto. O Rio precisava, não só como dever de memória da Humanidade, mas também porque nosso país também foi atacado pelo nazi fascismo; os submarinos alemães afundaram mais de 30 navios mercantes nacionais, indefesos, assassinando cruelmente mais de mil brasileiros inocentes, cidadãos de um pais pacifico e ainda rural, atacado pela maior potencia militar da época, com a arma submarina contra a qual não havia defesa. Para nós brasileiros, foi uma tragédia imensa, que deveria ser muito mais lembrada, hoje quase esquecida, ao contrario do Holocausto, cuja memoria permanece viva.

Em uma extensa mesa diante do palco tomaram assento o embaixador de Israel e muitas personalidades, como a vereadora Teresa Bergher, que há tanto tempo esperava esse dia, ela que junto com o saudoso Gerson Bergher, Z”L sempre lutou para que o Rio tivesse esse memorial.

Na extremidade mais distante do palco, no final da mesa, tomou assento um senhor. O domingo estava quente, ele segurava o paletó, e usava um boné onde se lia AM ISRAEL CHAI.

O Prefeito chamou diversos dos presentes, merecidamente, para assinarem o Termo de Doação. Foram muitos, talvez uns 10 ou 12. Um nome faltou, e ao ser lembrado por alguém, convocou Teresa.

Entretanto, nenhum assessor o lembrou de chamar uma especial testemunha. O Cônsul da Alemanha não se perturbou. Permaneceu em seu lugar segurando o paletó, com o boné do Colégio Liessin com o AM ISRAEL CHAI na lateral.

Hoje a Alemanha é uma nação amiga, do Brasil e de Israel. Porque não foram os alemães, foram os nazistas. A presença silenciosa do Cônsul foi, portanto, muito significativa, nos dias de hoje em que ressoam novamente os mesmos tambores do ódio que há 75 anos começaram a ser ouvidos. Apenas as bandeiras mudaram, porque o terror é o mesmo, seja num metrô em Moscou, num supermercado em Paris, ou numa escola religiosa de Jerusalem.

No domingo alegre do Recreio, iluminado pelo sol tropical que acolheu nossos pais e avós, a conjunção de datas não poderia ser mais eloquente. Neste dia histórico, admiramos o alemão que esteve hoje no clube, sob o nome honrado de um grande brasileiro, judeu e sionista, Adolpho Bloch. Sua presença nos lembrou Willy Brandt, diante do Monumento aos Heróis do Gueto de Varsóvia. E um dia certamente o Cônsul estará diante do Monumento no alto do Pasmado.

Ao som de George Israel e sua banda, nos animamos em comemorar datas importantes para o Brasil e Israel. E ao som dos Hinos dos dois países, iniciou-se o cumprimento de um inadiável dever de memoria, a homenagem que será erguida em concreto àqueles que pereceram pelo Santo Nome.

Em nossa opinião deveria haver também uma referencia aos brasileiros que morreram nos navios afundados, cujo tumulo foi o mar, e aos que repousam eternamente no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Parque do Flamengo.

iblajberg@poli.ufrj.br

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