Dra. ANITA WAINGORT NOVINSKY, Z’L.
Faleceu hoje, 20 julho de 2021, em São Paulo, a Professora Doutora Anita Waingort Novinsky (Z’L), importante historiadora brasileira, reconhecida nacional e internacionalmente, por seus estudos sobre os cristãos-novos no Brasil e a Inquisição portuguesa.
Anita nasceu em Stachow (Polônia) em 22 de novembro de 1922 e emigrou com sua família para o Brasil quando tinha apenas um ano de idade.
Graduou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo em 1956, com especialização em Psicologia.
Doutorou-se em História Social em 1970 e fez pós-doutorado pela Universidade de Paris em 1983.
Sua trajetória acadêmica só pode ser descrita se relacionada a um dos temas mais caros da humanidade: OS DIREITOS HUMANOS.
Sempre que teve a oportunidade, Anita contestava publicamente o perigo do antissemitismo e dos regimes totalitários que, por meio da dominação, não permitem a livre iniciativa em qualquer domínio da vida.
Anita Novinsky formou discípulos e, como historiadora e filósofa, deixa um amplo legado que extrapola a sua produção acadêmica. Sob este prisma, Anita ensinou os seus alunos e alunas a ler nas entrelinhas dos documentos, alertando-os sobre a liberdade de expressão enquanto um direito fundamental do indivíduo.
Nos anos 70, Novinsky inaugurou uma importante linha de pesquisa no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP: os estudos inquisitoriais sobre o prisma da história das mentalidades.
Assim, é do particular – da história dos cristãos-novos na Bahia – que Novinsky construiu um modelo teórico para repensarmos a questão do “outro” em todas as suas dimensões.
Como historiadora irreverente, Anita marcou um importante espaço nos estudos sobre marranismo e os cristãos-novos que viveram no Brasil.
Assim ela formou a “Escola Novinsky”: um grupo de pesquisadores que, em 2002, ajudaram-na a fundar o LEI- Laboratório de Estudos sobre Intolerância junto à Universidade de São Paulo.
Sempre incansável e determinada, tomou a corajosa iniciativa, na primeira década do nosso século, da construção, na Universidade de São Paulo, do Museu da Tolerância, cujo principal objetivo é combater intolerâncias políticas, religiosas, culturais e sociais, com seções temáticas sobre índios, africanos e judeus, minorias tradicionalmente vítimas de intolerância. “Crianças, adolescentes e adultos poderão aprender sobre os fenômenos históricos que produziram tanto sofrimento à humanidade”, dizia a fundadora, Dra. Anita.
A nossa entidade, B’nai B’rith, filhos da aliança, sente-se plenamente honrada por ter viabilizado os recursos para a realização do Concurso que selecionou os Arquitetos que projetaram um belíssimo conjunto desafiador e condizente com os desafios que a prática da Tolerância nos coloca, como seres humanos.
Anita e seu saudoso marido Mauricio foram membros de nossa entidade durante muitos anos. Deixam duas filhas: Sonia e Ilana.
Anita Waingort Novinsky mudou a historiografia brasileira deixando um extensa obra que, sem dúvida, ajudará seus leitores a contestar diante da discórdia e a buscar, sempre, a expressão da justiça, da ética e da lealdade. Amava Israel e tinha orgulho de ser judia, em todas as latitudes do seu pensamento.
Entrevistada por Rachel Mizrahi, pesquisadora do Núcleo de Estudos Arqshoah, Anita Novinsky deixou registrado seu amor à vida:
“Sinto a vida muito forte dentro de mim. Gosto das pessoas, animais, da natureza, de sentir o mundo correr, comer e ouvir música. Todos meus sentidos se abrem à beleza do viver. Como diz Suassuna, ‘gostei de ter nascido’. Ainda que tudo seja finito e, nos deparemos com separações que nos entristecem, a vida é bela e vale a pena ser vivida. Meus pais se foram, minha irmã – uma segunda mãe para mim, que também se foi – levam-me a brigar com a morte. Embora a vida tenha coisas cruéis, eu gosto de viver. Penso muito quando irei embora”.
Deixa um inesquecível legado para a humanidade que, certamente, será mantido e continuamente aperfeiçoado pelos seus discípulos.
Obrigado por tudo, Profa. Dra. Anita Waingort Novinsky (Z’L)
B’nai B’rith do Brasil
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