Passageira do navio Exodus, sobrevivente do Holocausto, lança livro em SP

Após sobreviver ao Holocausto, Sabina Kustin, 85, foi uma dos milhares de refugiados judeus que tentaram deixar para trás uma Europa devastada sob os escombros da guerra.

Incapaz de permanecer na Polônia, pois sua família havia sido dizimada, ela embarcou, com 3.500 pessoas, no navio Exodus, rumo à então Palestina. Num dos episódios mais emblemáticos da história da criação do Estado de Israel, o navio foi atacado em 1947 pelos britânicos e levado para o porto de Haifa. Sabina tentou erguer uma bandeira de Israel e levou um tiro no ouvido direito, mas não foi libertada. O Exodus foi obrigado a retornar para a Europa.

Sabina sobreviveu para contar não somente esta, mas muitas outras histórias. Na Polônia ocupada pelos nazistas, um padre a escondeu no porão de uma igreja. Ela conseguiu finalmente imigrar para Israel, e depois para o Brasil, em 1957.

Dizendo-se “100% brasileira” e esbanjando vitalidade, ela lançou neste domingo, no clube A Hebraica, de São Paulo, a segunda edição de seu livro de memórias “A vida e a luta de uma sobrevivente do Holocausto”.

A obra faz parte da coleção Testemunhos, da Editora Humanitas, idealizada pelo Instituto Shoah e pelo Laboratório de Estudos da Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) da USP, sob a direção da professora Maria Luiza Tucci Carneiro, que coordenou o debate no lançamento do livro, em conjunto com Abraham Goldstein, presidente da entidade judaica de direitos humanos B’nai B’rith.

No evento, outras obras da coleção foram apresentadas. Rosane Meiches, autora do livro “Nos campos da memória”, falou sobre a elaboração da obra, que conta a vida de seu pai, Kiwa Kozuchowicz, sobrevivente de seis campos de concentração. Leslie Marko, coordenadora das Oficinas Interativas de Teatro do Arqshoah, leu trechos de “Primaveras Perdidas”, de sua mãe, Hermine Kirchhausen. Dorothea Rosenthal contou sobre o preparo do livro que está escrevendo sobre sua mãe, a conhecida fotógrafa Hildegard Rosenthal. Também faz parte da coleção a obra “As Catorze Vidas de David: O Menino que tinha nome de Rei”, Szyja e Blima Lorber.

O debate despertou interesse também fora da comunidade judaica. Gilberto Cury, da Comissão de Liberdade Religiosa da OAB, ressaltou a importância do ensino da história do Holocausto nas escolas brasileiras, e apresentou o trabalho feito no Colégio Cristão Rhema, de Franco da Rocha (SP), que tem um museu com pinturas e esculturas dos alunos, trabalhos baseados no tema do Holocausto, e já trouxe vários sobreviventes para dar palestras, como Ben Abraham e George Legmann. Professores de diversas disciplinas do colégio estiveram presentes ao debate.

A professora Tucci apresentou também o programa “Escreva sua História”, dedicado a divulgar as histórias de vida dos sobreviventes do Holocausto, refugiados do nazifascismo no Brasil e de imigrantes, de múltiplas nacionalidades.

A importância deste projeto fica clara ao se ler as primeiras palavras das memórias de Sabina Kustin: “Nasci já adulta. Não tive infância e penso que nunca fui criança”.

A publicação do livro teve o apoio da Conib e da B’nai B’rith.

Ricardo Besen

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