Antissemitismo também dentro da UNESCO

Por Milton Blay, de Paris:

Nunca imaginei que esse dia chegaria, o de aplaudir uma tomada de posição de Bibi Netanyahu e muito menos de Donald Trump. Mas o dia chegou. Os lideres dos Estados Unidos e Israel anunciaram a retirada de seus países da Unesco, o órgão das Nações Unidas para a educação e cultura, com sede aqui em Paris, depois da adoção de duas resoluções negacionistas, em defesa dos interesses palestinos.

A Unesco simplesmente apagou do mapa de Jerusalém oriental e do centro histórico de Hebron a presença judaica. Como se o Muro das Lamentações e o Tumulo dos Patriarcas não passassem de mera ficção. O que é historicamente falso, religiosamente absurdo e politicamente estúpido; nas palavras do editorial do Le Monde.

Aceitar a Autoridade Palestina como membro da Unesco, em 2011, foi uma decisão compreensível. Mas querer impor uma mentira histórica sobre a presença de uma só população – a palestina – naquelas terras é um absurdo chamado negacionismo, contrário à procura da paz.

Em uma viagem à Berlim, visitei o antigo cemitério judaico, na verdade um terreno baldio com um único túmulo, construído após o final da Segunda Guerra, para lembrar que ali houve uma presença judaica. Ao destruir totalmente as lápides, os nazistas quiseram varrer a memória dos judeus, como se eles jamais tivessem estado ali.

As resoluções criminosas da Unesco são exatamente isso, a negação da história.

Mas elas não são surpreendentes. Há muito que o órgão da ONU se tornou refém do lobby árabe radical. Em 2009, esse lobby quase teve ganho de causa. O candidato egípcio (aliás apoiado pelo Brasil) só perdeu na reta final para a escolha do diretor-geral graças a uma aliança liderada pelos grandes países. Ele tinha sido ministro da “Cultura” de seu país, quando mandou queimar em praça pública livros escritos por autores judeus e cristãos.

Assim, a búlgara Irina Bokova tornou-se diretora-geral. Mas deixou o lobby em questão de mãos livres. No momento do voto pelo reconhecimento da Palestina como membro permanente da Unesco, ela nem sequer estava
presente.

Recentemente, a Unesco passou por mais um período de escolha de sua diretoria. Uma vez mais os árabes radicais pressionaram, mas não encontraram o candidato perfeito. O mais bem posicionado foi
um catariano, que não conseguiu o apoio da Arábia Saudita, países do Golfo e Egito, que estão em conflito com o Catar.

A eleita foi a candidata francesa, Audrey Azoulay, ex-ministra da Cultura, considerada quase que unanimemente a mais bem preparada para o cargo. Durante a eleição ela foi bombardeada. Os países árabes disseram abertamente que ela não podia concorrer porque era judia.

Venceu a cultura, perdeu o antissemitismo. Amanhã, talvez, a presença judaica no centro histórico de Hebron e Jerusalém oriental volte a ser reconhecida.

Milton Blay, jornalista ganhador do Premio Esso de Reportagem, foi chefe da Redação do Serviço Brasileiro da Rádio França Internacional, depois de ter trabalho em diversos jornais e revistas brasileiros. Vive em Paris.

Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.

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