Iom Hashoá e seu significado para o mundo

O Iom Hashoá, o Dia da Recordação do Holocausto, (em hebraico, 27 de Nissan, no calendário judaico, este ano; 2 de maio no calendário gregoriano), teve sua data oficializada pelo então primeiro-ministro israelense David Ben Gurion em 1959. O objetivo não era apenas manter viva a memória de seis milhões de judeus vítimas do nazismo, mas também fazer com que o #Holocausto chegasse ao conhecimento do mundo inteiro para combater as atrocidades cometidas em nome do antissemitismo e também do preconceito contra qualquer ser humano. Os nazistas ainda perseguiram e assassinaram ciganos, Testemunhas de Jeová, homossexuais, dissidentes políticos e deficientes físicos e mentais, entre outros.

“Não relembrar, ou negar o Holocausto, significa assassinar as vítimas pela segunda vez; por outro lado, recordar, significa sentir compaixão pelas vítimas de todas as perseguições”, disse certa vez o Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel, ele próprio um sobrevivente da Shoah. Já o historiador Saul Friedlander observou que “quando há quem creia que o outro não tem o direito de existir, chegamos ao cruzamento dos caminhos entre a civilização e a barbárie”. É por isso que, ao recordarmos a barbárie em Iom Hashoá, comprometemo-nos a seguir lutando pela civilização.

Na segunda-feira, 29 de abril, o Conselho de Segurança fez um minuto de silêncio pelas vítimas da sinagoga de San Diego no sábado anterior, e o secretário geral da ONU, Antonio Guterrez, ampliou o sentimento desse minuto também às vítimas católicas massacradas no domingo numa igreja de Burkina Fasso, a todas que também tombaram sob o fanatismo, uma semana antes, em Sri Lanka, e, há pouco tempo, às vítimas muçulmanas da Nova Zelândia.

O Conselho de Segurança espelhou-se na cerimônia que é realizada em Israel no dia de hoje. Às 10 da manhã, sirenes soam por todo o país e os israelenses ficam estáticos, observando dois minutos de reflexão silenciosa. Este momento é levado tão a sério que até mesmo os carros param no meio das ruas e estradas, e os motoristas ficam ao lado de seus veículos em silêncio durante esse período.
Reuven Hammer, em “Lessons and Legacies: Teaching the Holocaust in a changing world” (em tradução livre: Lições e Legados: Ensinando o Holocausto num mundo em mudança), editado em 1991 por Peter Hayes e Donald G. Schilling, Fundação Educacional do Holocausto, mostra que, como tudo, Iom Hashoá também tem seus mitos. E um dos primeiros logo após o término da Segunda Guerra Mundial foi a acusação, já rejeitada, de que os judeus “seguiam para a morte como cordeiros no abatedouro”. Não é acidental que o nome completo de Iom Hashoá seja “Iom Hashoá Vehagevurah” ─ o “Dia do Holocausto e Heroísmo”. O #heroísmo é uma parte importante no significado da recordação. Todos devemos sempre enfatizar os tempos em que os judeus se rebelaram, quando eles lutaram, quando eles tentaram escapar e quando eles mataram nazistas.

Para Hammer, outros elementos do mito ─ e aqui o termo “mito” não implica em falsidade ─ que surgiram incluem: a capitulação da civilização ao mal e a noção de que a cultura não impede a conduta bárbara; a prevalência de antissemitismo na bagagem cultural e religiosa do mundo ocidental e a necessidade de combatê-la; o silêncio do mundo em face do mal; e o heroísmo dos não-judeus justos que, ao salvarem judeus, trouxeram luz a um mundo sombrio.

O mundo precisa entender o que o Holocausto significou e ver o panorama atual. Ainda hoje acontecem genocídios, massacres e atentados. Olho em volta e percebo que nós ainda não aprendemos como evitar tudo isso! Alguns pequenos atos que podem ajudar: comprometer-se com a lembrança, o zachor, imperativo judaico que nos obriga a lembrar da nossa história coletiva como se nós mesmos a experimentássemos; ler e compartilhar histórias de sobreviventes; aprender com os sobreviventes que ainda restam ou com suas memórias registradas; ensinar tolerância e a história passada educando melhor as futuras gerações; conhecer os museus e os monumentos do Holocausto; e agir por um futuro sem ódio, de compreensão e paz, incorporando o conceito de Tikun Olam, nosso guia de ação social para a reparação do mundo.

* Szyja Ber Lorber é jornalista e presidente da Loja Chaim Weizmann da B’nai B’rith Paraná.

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