Investigadores alemães foram pela primeira vez até Oradour-sur-Glane (Haute-Vienne). Nesse vilarejo onde 642 vítimas foram massacradas no dia 10 de junho de 1944 por uma divisão blindada SS “Das Reich”, havia policiais militares posicionados na entrada das ruínas, impedindo qualquer intrusão.
Um magistrado e um comissário de polícia da Alemanha, ajudados por seus colegas franceses, fizeram observações. Sessenta e oito anos após os acontecimentos, a visita é surpreendente, mas na Alemanha os crimes de guerra não prescrevem, ao contrário da França, onde o limite é estabelecido em trinta anos, desde uma lei de 2010.
É difícil imaginar que depois de tanto tempo seja possível encontrar novos indícios. Mas os investigadores querem “entender como era a disposição do recinto”, o que “permite validar ou invalidar as declarações” dos supostos autores. Foram efetuadas anotações fotográficas e topográficas.
“O local é um indício a partir do momento em que se pode situar, visualizar as distâncias, o posicionamento de tal ou tal pessoa”, explica Aurélia Devos, vice procuradora de Paris, chefe do departamento de crimes contra a humanidade.
Como parte de uma ajuda penal internacional mútua, ela acompanhava os dois representantes de Andreas Brendel, o procurador de Dortmund, especializado nos crimes nazistas, que está conduzindo as investigações sobre o massacre na Alemanha.
Em 1953, em Bordeaux, um tribunal militar francês havia condenado à morte à revelia o general Heinz Lammerding, considerado o principal responsável, mas a Justiça alemã nunca o entregou às autoridades francesas. Este faleceu em 1971, sem nunca ter sido verdadeiramente incomodado.
A reunificação alemã em 1990 viria a mudar as coisas. Um historiador encontrou nos arquivos da Stasi (serviços secretos da ex-Alemanha Oriental) documentos que permitiram reabrir o inquérito. No final de 2011, a Justiça alemã revistou o domicílio de seis homens, com idades de 85 e 86 anos, suspeitos de terem participado do massacre. Mas nenhuma prova decisiva foi encontrada e eles negaram sua participação.
O caso ainda desperta muitas emoções. “Simbolicamente, é muito forte”, comemora o prefeito, Raymond Frugier. “O fato de que a Justiça continua seu trabalho 68 anos depois e que um procurador alemão seja encarregado, prova que as mentalidades evoluíram muito”.
Por um acaso do cronograma judiciário, essa reabertura do inquérito sobre Oradour coincide com a véspera do 80º aniversário da chegada de Hitler ao poder na Alemanha.
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