A restauração da influência dos EUA no Oriente Médio

Houve um tempo em que o poder americano era visto como sendo decisivo no Oriente Médio. Quando Washington espirrava, havia a sensação de que a região pegaria um resfriado.

 

Os tempos mudaram. Muitos fatores nos trouxeram a este ponto. Talvez mais importante seja o fato de que a região mudou, mas as políticas americanas não se adaptaram.

 

O debate que cerca a eleição presidencial nos Estados Unidos novamente sinaliza nostalgia por uma época em que Washington podia ditar os resultados –recompensar os amigos e punir os inimigos.     

 

Hoje, os Estados Unidos são vistos pelo público árabe como cada vez mais irrelevantes para as questões que importam aos árabes. Essa percepção é reforçada pela relutância ou incapacidade de Washington nos anos recentes em agir de modo decisivo em várias áreas.

 

Na frente política, os Estados Unidos são vistos, de modo certo ou errado, como apoiando aquela que o Ocidente considere ser a opção menos assustadora, em vez de apoiar um processo dinâmico de mudança para o pluralismo e governos eleitos. Além disso, o fracasso de sucessivos presidentes americanos em tratar seriamente a questão da paz entre israelenses e palestinos reforçou as percepções da irrelevância de Washington.

 

Apesar do quase consenso entre árabes e israelenses de que os Estados Unidos têm em suas mãos a maioria das cartas no processo de paz, os líderes americanos parecem não dispostos –ou incapazes– de usá-las. Como resultado, os Estados Unidos são vistos como cada vez mais à margem –não por não serem necessários, mas por continuarem fugindo do papel de liderança. A percepção de que os presidentes americanos são incapazes, ou não dispostos, a agir de modo independente visando buscar a paz, criou uma situação onde a maioria das pessoas desistiu de Washington nesse aspecto.

 

Na arena militar, as percepções a respeito do poder americano permanecem maculadas pela guerra no Iraque –uma guerra que foi vencida no campo de batalha em semanas, mas ainda não atingiu seus objetivos políticos declarados. Muitos árabes se perguntam de forma lógica: qual é a relevância das forças armadas americanas se, 10 anos após a invasão e ocupação do Iraque, as tropas americanas se retiraram sem deixar para trás uma democracia funcional?

 

O poder econômico reduzido dos Estados Unidos enfraqueceu o poder “soft” americano em solo. Mesmo se os Estados Unidos quisessem destinar fundos generosos para ajudar a construir novas democracias árabes, sua habilidade de fazê-lo está severamente restringida. Há pouca expectativa atualmente de que a assistência americana possa ser um fator decisivo nas transformações econômicas pelas quais a região precisa passar.

 

Esses reveses reforçaram uma imagem de um poder enfraquecido e cada vez mais à margem no Oriente Médio. Mas ao mesmo tempo que os autores de políticas americanos precisam aceitar a nova realidade da menor influência de Washington, eles também precisam reconhecer que os Estados Unidos ainda importam.

 

Apesar do senso comum, não é o antiamericanismo que limita a influência americana. As pessoas ainda se identificam muito positivamente com os valores americanos.O que seria preciso para ressuscitar a relevância americana na região?

  

Primeiro, o próximo presidente deve abraçar o desafio da paz entre israelenses e árabes. Nenhum outro país pode exercer esse papel. Os Estados Unidos, ferrenhos aliados de Israel e defensores dos princípios da lei internacional, ainda são os únicos parceiros capazes de ter credibilidade junto a ambos.  Árabes e israelenses precisam da liderança de Washington para chegarem a um acordo a respeito da solução de dois Estados e para a criação de uma oportunidade de compromisso genuíno antes que seja tarde demais.

 

Segundo, os Estados Unidos precisam abraçar o processo de transformação política atualmente em andamento no mundo árabe. Os Estados Unidos precisam contribuir para o desenvolvimento de uma cultura pluralista na região, apoiando o processo democrático e o desenvolvimento das novas instituições que estabelecerão o estado de direito e os princípios internacionais de direitos humanos. Washington deve apoiar o processo, não líderes individuais –tanto nos países em transição quanto naqueles que não iniciaram a transição.

 

Finalmente, os Estados Unidos precisam reconhecer que o Islã político não é o inimigo –o inimigo é a intolerância, o extremismo e o dogmatismo, independentemente de existir na forma religiosa ou secular. Se os Estados Unidos quiserem reconstruir sua credibilidade, eles precisam abraçar políticas que recompensem o desempenho acima da ideologia e reconheçam que os cidadãos árabes devem escolher seus próprios líderes. Os Estados Unidos e outros membros da comunidade mundial podem ajudar a fazer com que esses líderes respondam pelas normas internacionais e direitos humanos.

 

Os Estados Unidos precisam se concentrar sobre se podem fazer a diferença, em vez de se concentrarem, como sugerem alguns conservadores, na velha noção de que devem ditar os resultados. Agora é hora de incorporar os valores americanos na política externa americana.

 

Enquanto o Oriente Médio passa por uma transformação histórica, os Estados Unidos devem defender a paz e mudanças que levem ao desenvolvimento de culturas pluralistas e abertas. Esse é um projeto crítico dos árabes e não será fácil. Mas o fracasso é impensável. Washington deve se envolver como amigo, reconhecendo que o processo é em grande parte uma responsabilidade que a região deve assumir por si só.

 

*Marwan Muasher é vice-presidente de estudos do Fundo Carnegie para a Paz Internacional. Ele atuou como ministro das Relações Exteriores e vice-primeiro-ministro da Jordânia.

 

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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