Minha avó nasceu em Rachaya, uma vila libanesa que se localiza próxima ao que é atualmente a tríplice fronteira entre o Líbano, Israel e Síria, aos pés do Monte Hermon. Meus bisavós, com ela ainda criança e alguns irmãos, decidiram imigrar quando soldados senegaleses lutando pela França invadiram a vila destruindo casas e mesmo igrejas. O destino, como o de muitos sírios e libaneses, incluindo meu avô, foi o Brasil.
Não é fácil, claro, imigrar ou buscar refúgio de um conflito armado. Minha avó sempre contava da boneca que deixou em Rachaya para nunca mais ver. No Brasil, os libaneses da primeira geração costumavam mascatear e, se possível, abrir um comércio. Foi o caso do meu bisavô. Ele não era diferente do Mohammad, o vendedor de esfias sírios agredido no Rio de Janeiro pelo simples fato de ser refugiado e muçulmano.
Sim, meu avô não era muçulmano. Era cristão grego-católico (melquita). Mas na época também sofreu preconceito por ser árabe. Não conseguiu matricular minha avó Lorete em uma escolha católica de São Paulo. Tentou explicar que ela tinha sido batizada pelo bispo no Líbano. O padre da escola disse que “batismo de turco” não valia. Em outra escola, as colegas brasileiras diziam “turca maldita, come quibe com barata”. Passou o tempo e, claro, a integração foi total. Meu pai, da segunda geração, se tornou um proeminente médico em São Paulo, onde um dos dois melhores hospitais é o Sírio-Libanês – o outro, o Einstein. Eu me tornei jornalista.
E não é apenas no Brasil e com sírio-libaneses. Em Nova York, até poucas décadas atrás, italianos eram associados a mafiosos, assim como árabes são associados ao terrorismo. Os católicos irlandeses e os judeus de diferentes partes da Europa e do Império Otomano sofriam preconceito dos protestantes brancos anglo-saxões. Hoje é a vez dos latino-americanos. Os negros seguem sofrendo enorme racismo tanto nos EUA quanto no Brasil. Leia a matéria completa em: www.ruajudaica.com
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