“A Força da Mentira – a grande farsa de Os Protocolos dos Sábios de Sião”

Lançado no dia 22 de novembro na PUC/SP, o lvro “A Força da Mentira – a grande farsa de Os Protocolos dos Sábios de Sião” é fruto de pesquisas sobre uma farsa que ! “sobrevive e continua a espalhar o seu veneno”, como diz a autora. Estará à venda nas melhores livrarias.

Leia o que diz a juíza Hadassa Ben-Ito sobre o livro e o Prefácio do Dr. Carlos Roberto Schlesinger, presidente da Associação de Advogados e Juristas Brasil-Israel.

A autora Hadassa Ben-Itto

A autora Hadassa Ben-Itto diz sobre o livro (página 15 a 22)

Este livro discorre sobre um documento forjado, que relata uma história mentirosa a respeito do meu povo. De todos os libelos que já serviram como meio de incitação contra os judeus e como justificativa intelectual para o antissemitismo, o mito da assim chamada “conspiração judaica de dominação mundial” – que foi materializado na farsa expressa em Os Protocolos dos Sábios de Sião – é provavelmente o mais capcioso e, a longo prazo, o mais perigoso entre todos.

A Força da Mentira conta a história completa daqueles que forjaram esse texto, que o utilizaram e o distribuíram pelo mundo. Por outro lado, ele presta homenagem àqueles que o expuseram e o contestaram. No decorrer do último século, essa mentira foi publicada e disseminada em praticamente todos os idiomas conhecidos nos países civilizados. Por outro lado, tem sido repetidamente, por muitas décadas, desafiada e exposta em países democráticos, por jornalistas honestos, historiadores eruditos, políticos e diplomatas, líderes religiosos, ex-agentes policiais e, acima de tudo, por juízes corajosos, responsáveis e irrepreensíveis em países democráticos. A própria história atroz do século 20 refuta essa terrível mentira.

Ainda assim, essa farsa sobrevive e continua a espalhar o seu veneno.

A história dos Protocolos foi contada diversas vezes, em diferentes idiomas, em publicações acadêmicas bem fundamentadas, que lotam as prateleiras das bibliotecas. Apesar de Os Protocolos terem sido no passado (e continuarem sendo hoje) publicados e republicados em centenas de edições, e seus milhões de exemplares serem distribuídos livremente em todo o mundo – além de estarem disponíveis também na internet –, o grande público não tem conhecimento dos acontecimentos por trás dessa história dramática. Afinal, notas de rodapé em estudos acadêmicos têm pouco alcance entre os leitores.

Não sou uma historiadora e meu envolvimento com o enredo de Os Protocolos dos Sábios de Sião tem um aspecto muito mais pessoal do que profissional. Como descrevi no livro, tomei contato com essa história após uma sequência de coincidências e comecei a pesquisá-la por pura curiosidade. Como juíza, eu estava particularmente interessada nos julgamentos que os envolveram, que já haviam sido mencionados em publicações anteriores sem serem totalmente descritos. Conforme ia tomando conhecimento dos fatos, comecei a sentir a obrigação de compartilhá-los com o público. E foi assim que aquilo que começara como um projeto menor, e que não deveria interferir em minha carreira como juíza, tomou proporções incríveis e me conduziu a um dilema pessoal. Para poder prosseguir com minha pesquisa enquanto toda a história se descortinava à minha frente, fui levada a deixar minha carreira antes de alcançar a idade compulsória de aposentadoria, após 31 anos de serviço à Justiça israelense.

À medida que eu desvendava a história dos Protocolos, surpreendia-me com o número de pessoas que com ela se envolveram e cujas vidas foram afetadas em diferentes aspectos. Muitos desses personagens haviam sido mencionados em outras publicações que, no entanto, não satisfizeram minha curiosidade. Decidi acumular o maior volume de informações possível sobre cada um desses indivíduos e trazê-los à vida em meu livro. Duas pessoas a quem eu havia procurado em busca de aconselhamento me encorajaram a seguir nessa direção.

Haim Cohn foi meu amigo e mentor por muitos anos. Um dos mais importantes juristas de Israel, ele fora procurador-geral e ministro da Justiça, vice-presidente da Suprema Corte de Israel e autor de muitos livros importantes, incluindo o famoso estudo sobre o julgamento de Jesus Cristo (1), que foi traduzido para muitos idiomas.

“Siga a história aonde quer que ela a leve”, ele me disse, “e escreva como uma juíza, não como uma historiadora”. Apesar da idade avançada e da saúde precária, Cohn se ofereceu para ler meu livro e escreveu a introdução da versão em hebraico.

Eu recebi o mesmo conselho de um historiador muito conhecido, o professor Israel Gutman, da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Museu do Holocausto de Jerusalém, uma das maiores autoridades nesse campo. O professor Gutman me acompanhou ao longo de minha pesquisa, debatendo comigo vários aspectos dessa história. Conforme prosseguia, eu o informava a respeito de minhas fontes; em seguida ele lia e então aprovava os textos finais. Ele também apresentou meu livro, em sua versão em hebraico, em três encontros públicos.

Decidi literalmente “seguir” a história, viajando de um país para outro. De São Petersburgo a Berna, de Paris a Londres, de Johannesburgo e Port Elizabeth a Washington. Entrevistei pessoas pessoalmente, li todos os livros possíveis, em diferentes idiomas, procurando por fatos e por materiais de apoio. Vasculhei arquivos públicos e particulares e passei meses estudando uma montanha de documentos que se acumulavam tanto em meu computador quanto em minha tela de microfilmes.

Eu escrevi a história da forma como a conheci, mas me permiti alguma licença poética para descrever eventos e pessoas com minha própria linguagem. Tudo isso consumiu seis anos de trabalho. A partir de 1933, Os

Protocolos passaram a ser utilizados para propagandear o nazismo em todas as partes do mundo. Como juíza, eu estava particularmente interessada em dois grandes julgamentos, ambos iniciados em 1934 pelas comunidades judaicas na Suíça e na África do Sul, contra nazistas locais, distribuidores dos Protocolos.

A princípio, me parecia óbvio que o Julgamento de Berna seria o tema central de meu livro – afinal, eu não teria como prever, naquele momento, a sucessão de fontes inesperadas que surgiriam em meu caminho, uma me conduzindo à outra.

A primeira delas foi Odette, a quem conheci em um encontro não premeditado. Ela era viúva de Georges Brunschvig, o jovem e inexperiente advogado que assumiu, em 1934, a condução do mais importante julgamento histórico envolvendo Os Protocolos dos Sábios de Sião, que aconteceria no tribunal da cidade de Berna. Foi então que descobri, para minha grata surpresa, que eu teria a oportunidade de entrevistar, em pleno ano de 1988, testemunhas vivas que moravam em Berna na época do julgamento e que se lembravam, mesmo depois de mais de 50 anos, de detalhes que não constavam em nenhum dos registros existentes.

Ao longo dos anos de minha pesquisa, passei muitos e muitos dias conversando com Odette, reavivando sua memória, gravando suas impressões e estudando as anotações pessoais deixadas por seu esposo. Foi através dela que descobri muitas outras fontes.

O manuscrito inédito de 800 páginas de Emil Raas, que fora o advogado associado de Georges Brunschvig, me forneceu uma visão valiosa a respeito da condução do Julgamento de Berna.
Emil Dreifus conservou miraculosamente, por mais de 50 anos, os jornais que reportaram os procedimentos judiciais e forneceu descrições vibrantes sobre o ambiente naqueles dias e sobre as testemunhas.

Willy Guggenheim, secretário-geral da comunidade judaica da Suíça, colocou à minha disposição o arquivo completo de Georges Brunschvig, cuja custódia havia sido a ele confiada e que permaneceu por muitos anos guardado em um armário de seu escritório. O acervo incluía grande quantidade de documentos, relatórios, minutas de reunião, anotações e a correspondência acumulada pelos advogados para a acusação. Foi por meio de seus esforços que esse acervo foi completamente microfilmado. Sinto-me profundamente grata ao professor dr. Klaus Urner, diretor do Arquivo Histórico ETH (Archive fuer Zeitgeschichte) em Zurique, e ao dr. Uriel Gast, diretor do Departamento de História Judaica, que enviou para mim três cassetes de microfilmes com cerca de 8 mil páginas.

Por longos períodos no decorrer da preparação desta obra, a The Wiener Library da Universidade de Tel-Aviv foi como meu segundo lar. Passei ali muitas semanas estudando o registro integral do Julgamento de Berna e não poderia de forma alguma ter me familiarizado com o vasto material ali disponível se não contasse com a assistência ativa e oferecida graciosamente por duas maravilhosas mulheres, então responsáveis pela biblioteca: Miriam Broshi e Gila Michlovski. Foi por meio delas que tomei conhecimento dos documentos do Arquivo Fryenwald, que levaram à criação de um capítulo inteiro do livro. Todos os fatos a respeito dos réus no Julgamento de Berna, incluindo a comunicação entre eles, suas táticas, seus métodos conspiratórios e seu contato com a liderança nazista na Alemanha estão integralmente documentados nesse arquivo, que havia sido confiscado pela polícia suíça
após o julgamento.

Como descrito no livro, o registro integral e completo do julgamento da África do Sul em 1934 chegou a minhas mãos através do advogado Jankelevich, que os manteve em sua posse durante todos aqueles anos.

O restante das informações referentes a esse julgamento vieram da biblioteca da Federação Sionista de Johannesburgo.

Os registros e os materiais de apoio do recurso apresentado ao South African Board of Publications, em 1991, estão sob minha posse em função de meu envolvimento pessoal nesses processos. Como presidente da Associação Internacional de Advogados e Juristas Judeus, fui consultada por nossa filial na África do Sul sobre esse assunto, e essa é a melhor oportunidade para expressar, tanto à liderança dessa unidade quanto aos advogados que me ofereceram voluntariamente sua assistência profissional, o reconhecimento pelo maravilhoso trabalho que fizeram e pelo material colocado à minha disposição.

Atendendo ao pedido daqueles que me forneceram documentos sobre o julgamento de Moscou em 1991, e que ofereceram seu depoimento como testemunhas, seus nomes permanecerão aqui anônimos. Eles merecem toda a minha gratidão.

Obviamente, a Rússia tsarista esteve no centro dessa história. Muitos livros já abordaram essa época; no entanto, a descrição dos eventos que levaram à publicação dos Protocolos, assim como a história de todos os envolvidos nessa saga, demandou um enorme esforço.

As memórias do conde Serguei Witte, ministro das Finanças do gabinete tsarista, e de Pável Miliukov, líder da oposição, merecem uma menção especial, uma vez que trouxeram à luz muitos fatos e passagens.

O dr. Boris Moruzov, historiador que me auxiliou ao longo de minha pesquisa, vasculhou arquivos russos recém-abertos, traduzindo documentos e me suprindo de um material de valor inestimável. Ele também checou e rechecou materiais russos provenientes de outras fontes, assim como me ajudou a decifrar a confusa grafia dos nomes russos (2).

A história completa dos russos que figuram neste livro, tanto os falsificadores quanto as testemunhas, é proveniente desses arquivos russos e de documentos do acervo privado de George Brunschvig, assim como o depoimento das testemunhas no Julgamento de Berna e de trabalhos publicados sobre alguns deles.

The Last Tzarina, livro de autoria da princesa Catarina Radziwill, publicado em inglês em 1929, forneceu detalhes cheios de matizes só possíveis a uma testemunha ocular, os quais usei em minhas descrições a respeito dessa mulher, fundamental na revelação da verdade por trás da farsa dos Protocolos.

Para recriar o ambiente da Rússia daquela época, li e utilize as fascinantes memórias de Maurice Paléologue, o último embaixador francês na Rússia tsarista. O jornal The Times, de Londres, teve papel central na revelação da verdade por trás de Os Protocolos, assim como na contínua divulgação no mundo dos fatos que o cercam. As informações referentes à atuação de seu correspondente, Philip Graves, e do próprio The Times são provenientes dos arquivos do jornal, aos quais tive acesso em função do gentil apoio oferecido pelo corpo diretivo da publicação. A equipe do arquivo trouxe à minha mesa enormes volumes, repletos de documentos relevantes e generosamente me ajudou preparando cópias de todo esse material. Foi assim que conheci a história completa de Philip Graves, sua relação com o editor e gerente do The Times, a descrição de seus encontros em Istambul com o refugiado russo que desejou permanecer anônimo, sua esperança em receber o Prêmio Nobel por sua revelação a respeito dos Protocolos e sua relutância em testemunhar no Julgamento de Berna, em função do receio de colocar em perigo a vida de seus familiares que viviam então na Alemanha nazista.

As informações completas a respeito da história de Ford (3) e as entrevistas com Catarina Radziwill e Henriette Hurlblut vieram da Biblioteca do Congresso em Washington, principalmente de antigos exemplares do The American Hebrew (4). Minha colega Janet Terner merece crédito por sua inestimável ajuda, ensinando-me a utilizar a biblioteca e garantindo, assim, fácil acesso a materiais de grande importância. Dessa forma eu conheci o sr. Pipps, editor do jornal de Ford, The Dearborn Independent, que se opôs à publicação dos Protocolos, pediu sua demissão em protesto a ela e contou toda essa história em seu próprio jornal, o Pipps Weekly.

Foi ali também que descobri os fatos a respeito da nomeação e da denúncia do subcomitê do Comitê Judiciário do Senado dos Estados Unidos, em 1964, e seu relatório completo sobre Os Protocolos dos Sábios de Sião, que faz parte dos registros parlamentares.

Desde o início eu me senti profundamente fascinada por Maurice Joly, autor do livro que fora plagiado nos Protocolos. Sua autobiografia me serviu como uma fonte de valor inestimável. Tentei, em vão, encontrar o registro original de seu julgamento, mas a corte em que foi realizado se incendiou. Eu encontrei uma cópia do registro original da prisão na qual ele cumpriu sua sentença com a ajuda da juíza Miriam Ezratty, ex-primeira-presidente do Tribunal de Apelação da França.

As mais valiosas informações a respeito da publicação dos Protocolos foram providas pelo Projeto para Estudo do Antissemitismo da Universidade de Tel-Aviv, liderado pela dra. Dina Porat, que me ajudou com seus conselhos e sua clareza.

O professor Bernard Lewis, cujos livros e artigos permitiram que eu conhecesse a situação em países árabes e muçulmanos, compartilhou de boa vontade sua experiência pessoal durante nossas caminhadas pela orla de Tel-Aviv, me proporcionando o privilégio de conhecer esses fatos tendo como fonte um dos maiores especialistas no tema. Ele também confirmou que Os Protocolos são correntemente vendidos nas livrarias de capitais árabes, as quais ele com frequência visita.

Para evitar omitir nomes de algumas pessoas que me assessoraram e que merecem meu agradecimento, não os listarei por completo. Gostaria apenas de mencionar aqueles que merecem crédito especial.

Muzi Wertheim, pela confiança depositada em mim e em meu projeto e por me prestar tão significativo apoio.

Ron Gazit, por ser um bom amigo e por acompanhar de perto esse projeto, oferecendo seus conselhos, apoio e seu precioso tempo sem nada exigir em contrapartida.

Dr. Gil Feiler, que me apresentou ao mundo dos computadores e dos dados, vasculhando sites de internet e enchendo meu disco rígido com publicações importantes. Ele esteve sempre disponível para oferecer conselhos e assistência.

Professor Ben Ami Shillony, da Universidade Hebraica, que me ofereceu uma história pessoal e checou o trecho referente ao Japão.

E minha filha Orly, cuja opinião como leitora crítica e inteligente eu valorizo profundamente; ela leu o texto completo e ofereceu apoio moral e observações sempre úteis.

A despeito de toda a ajuda, esse foi um trabalho solitário. Estou grata a todos os meus amigos íntimos e colaboradores – e são tantos que seria difícil nomeá-los individualmente –, os quais me acompanharam nessa longa jornada e nunca se cansaram de ouvir meus relatos, compartilhando comigo bons e maus momentos.

Escrevi esse livro como um desafio a todos aqueles que inadvertidamente permitem que essa e outras mentiras similares sejam espalhadas e provoquem danos contínuos. Muitas pessoas me disseram repetidas vezes que é errado banir um livro, qualquer livro, mesmo que seja baseado em uma farsa comprovada. Uma mentira, eles dizem, deve ser confrontada no “campo das ideias”. Os fatos descritos em meu livro provam que essas pessoas estão erradas. Uma mentira deliberada não é uma ideia. Ela pode facilmente transformar-se em uma arma perigosa. Aqueles que a exploram não participam de debates no “campo das ideias”. Diferente de algumas armas, uma mentira como a dos Protocolos nunca é utilizada como autodefesa e, assim, não há por que permiti-la. Ela deveria ser banida, assim como outras armas que têm o potencial de causar assassínios em massa e destruição.
Identifico-me com os que creem que mentiras e libelos que elegem um grupo humano como bode expiatório, alvo do ódio e vítimas potenciais de homicídio ou de extermínio não devem ser protegidos pelo conceito de “liberdade de expressão”. Com meu livro, desafio aqueles que discordam de meu ponto de vista a apresentar uma alternativa viável.

1. O Julgamento de Jesus, o Nazareno (na edição em português), Rio de Janeiro: Imago, 1990.
2. Nesta edição, foi dada preferência a formas consagradas dos nomes russos no Brasil; quando não encontradas, optou-se pela transliteração a partir do inglês, com acentuação segundo a norma da língua portuguesa. [N.T.] 3. A autora se refere ao livro O Judeu Internacional: o primeiro problema do mundo, publicado em 1920 pelo industrial americano Henry Ford, francamente inspirado em Os Protocolos dos Sábios de Sião e considerado, então, a obra antissemita mais virulenta da era moderna. Ao longo desta obra, ela voltará a este tema diversas vezes. [N.T.] 4. Revista semanal judaica publicada em Nova York a partir de novembro de 1879. [N.T.]

Prefácio do livro, pelo Dr. Carlos Roberto Schlesinger, presidente da Associação de Advogados e Juristas Brasil-Israel

No meio do caminho havia uma pedra. Havia uma pedra no meio do caminho da carreira de Hadassa Ben-Itto. A experiente juíza israelense se deparou com ela em 1965, quando, ao representar o Estado de Israel na 20ª sessão da Assembleia Geral da ONU, foi apontada como a “delegada dos sábios de Sião” por representantes de vários países que não reconheciam – e ainda não o fazem hoje – o Estado de Israel. Sequer mencionavam o nome do país, como conta a autora nesta obra, agora lançada em português.

Ao identificar um cidadão israelense com o terrível conceito descrito em Os Protocolos dos Sábios de Sião, desqualifica-se o próprio Estado de Israel. Afinal, se o nome da nação pode ser substituído por essa expressão mentirosa, atribui-se a ele os mesmos princípios defendidos naquela que já foi comprovada ser a maior farsa literária do século 20: a de que o país foi criado visando à dominação mundial, à eliminação do cristianismo e à soberania econômica por meio da especulação e da trapaça.

Nos diferentes “encontros” entre Hadassa e Os Protocolos, como ela descreve logo no primeiro capítulo de seu livro, fica evidente sua indagação perene quase ingênua, explicitada por sua dificuldade em compreender que o mundo de fato conferiu a eles um dia, e ainda confere, credibilidade. Uma farsa criada com o propósito de acirrar os ânimos de russos, alemães, europeus e não judeus do mundo todo contra uma “arrogante, criminosa e assassina associação secreta”, que, acusam, não teria nem ao menos escrúpulos em documentar e sistematizar seus planos.

Hadassa indigna-se, repito, com comovedora inocência, contra o texto apócrifo:

“Quem poderia acreditar que havia uma conspiração judaica com o objetivo de dominar o mundo? Tudo o que nós queríamos, eu refleti naquele momento, era sermos aceitos como iguais. Sempre, em todas as sociedades em que vivemos, tentamos nos misturar, ser admitidos em suas escolas e em seus clubes, convidados em suas casas…. Buscamos a excelência, claro, mas isso significava dominar e governar os demais?”

A autora aposentou-se da Corte Suprema de Israel para se dedicar à fantástica incursão na história dos julgamentos sobre os Protocolos, da qual nos dá conta a obra A Força da Mentira. A abordagem inusitada – examinar as questões judiciárias em lugar de preparar um libelo contra o livro – é significativamente atual. Vivemos tempos assustadores, de discursos extremistas e de sua veiculação por diferentes meios, em especial pela internet. As massas ignaras se apresentam despudoradamente para explicitar seus conceitos racistas, excludentes e que têm temperado historicamente o caldo do qual os Protocolos são o veículo excipiente.

A discussão em todos os foros possíveis dos discursos de ódio contra judeus – e que atingirá, no final, a todos – é uma urgência. Neste cenário, A Força da Mentira surge na impecável tradução de Miriam Sanger para aparelhar esta interminável luta. A edição brasileira dos Protocolos dos Sábios de Sião, traduzida e apostilada por Gustavo Barroso, líder integralista e considerado por muitos o mais antissemita intelectual brasileiro, é vendida a 1 real pela internet. Outras versões podem ser baixadas livremente.

Edições da Editora Revisão, Edições Júpiter e outras circulam no Brasil e jamais foram questionadas. É uma questão complexa, a da liberdade de informação versus a veiculação de discurso incitador de ódio racial, étnico ou de qualquer forma sectário. Talvez a leitura de A Força da Mentira possa nos auxiliar a lidar com essas ferramentas de contenção e sua forma de utilização para eliminação de discursos insidiosos como o dos Protocolos, o da perfídia incrustada na voz da vítima, como se fosse ela sua autora.

Um discurso que não será ultrapassado se não for enfrentado e destruído pelo expurgo catártico da análise de seus métodos e pela análise dialética que Hadassa Ben-Itto teve em seu heroico empenho de aprofundar, na faina da procura e do encontro de fontes primárias a espessar sua obra. O caminho de Hadassa Ben-Itto está livre, por ter afastado com força atlântica aquela pedra que se atravessou no seu caminho. Agora é nossa vez de agir.

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