Foi Donald Trump que acendeu as tochas de Charlottesville

Presidente deu permissão a supremacistas ao se recusar a agir contra ódio racial – por Petula Dvorak, colunista do ‘Washington Post’

Manifestantes de extrema-direita acendem tochas em protesto na Universidade da Virgínia  STRINGER / ALEJANDRO ALVAREZ/NEWS2SHARE
Manifestantes de extrema-direita acendem tochas em protesto na Universidade da Virgínia  STRINGER / ALEJANDRO ALVAREZ/NEWS2SHARE

O presidente Donald Trump acendeu cada uma das tochas em Charlottesville. É fato que os supremacistas brancos sempre estiveram entre nós. Desfiles racistas não são estranhos a qualquer um familiarizado com a História americana, especialmente aqueles que têm sido alvo de ódio e violência por séculos. Mas quando os racistas marcharam por Charlottesville na noite de sexta-feira com tochas acesas aos gritos de “Heil Trump”, como um abre-alas para um sábado de violência, mostraram ao mundo que os EUA estavam, mais uma vez, brincando com fogo. E Trump era um dos que riscaram fósforos.

O simbolismo não é recente. Tochas e cruzes em chamas remetem à fundação do país. Todos os apologistas do white power sabiam exatamente que tipo de medo tentavam evocar. A visão das bandeiras nazistas e confederadas era igualmente assustadora para milhões de americanos que perderam parentes no Holocausto ou que têm vívidas memórias da opressão racial nas mãos da Ku Klux Klan e de outros terroristas do white power.

Assistimos ao vivo o mesmo ódio simbolizado pelas bandeiras, enquanto Trump olhava para o outro lado. Donald Trump deu a cada um dos supremacistas permissão para agir assim ao se recusar a tomar uma atitude sobre campanhas de ódio racial e intimidação nos seis primeiros meses de sua Presidência. Ele passou anos questionando o local de nascimento e a legitimidade do ex-presidente Barack Obama, o primeiro comandante em chefe negro da nação. E os supremacistas brancos amam Trump por isso. No sábado, o presidente permaneceu calado por horas em seu clube de golfe de Nova Jersey. E foi só depois que um jovem de 20 anos jogou o carro contra uma pacífica multidão que protestava contra os supremacistas, matando uma mulher e ferindo 19 pessoas, que Trump resolveu falar sobre o ataque terrorista em solo americano.

“Condenamos nos termos mais fortes possíveis essa chocante demonstração de ódio, fanatismo e violência de muitos lados”. De muitos lados, ele disse. Errado. “Há só um lado”, o ex-vice-presidente Joe Binden replicou no Twitter. Trump tem tanto medo de ofender sua tribo, que ele nem mesmo usou em seu pronunciamento frouxo o pronome “eu”.

Somos nós que teremos de extinguir o incêndio que nosso presidente espalhou. Democratas, republicanos, independentes, não importa. As tochas em Charlottesville são uma perigosa demonstração da cultura de guerra em curso nos EUA. A abominação do que aconteceu não é para debate. Não se trata de uma plataforma política ou viés cultural. Racismo, intolerância e terrorismo em nome do nacionalismo branco não são “um lado”. São veneno. E fazer qualquer outra coisa que não seja condenar e expulsar isso é simplesmente não-americano.

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O Globo

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