Exposição Entre Dois Mundos

O legado dos refugiados do nazifascismo em tempos de intolerância
Brasil, 1933-1945

Exposição a ser inaugurada no próximo dia 27 de maio, às 12 horas no espaço do CIESP como parte das atividades do XVIII Maifest-2017, evento multicultural de São Paulo, organizado anualmente pela Associação do Brooklin. A mostra expressa os resultados das pesquisas desenvolvidas pela equipe do projeto Arqshoah-Vozes do
Holocausto, junto ao Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) da Universidade de São Paulo. A proposta apoia-se no inventário que vem sendo realizado desde 1996 pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, professora do Departamento de História da FFLCH-USP, coordenadora do LEER e curadora da mostra. Atualmente o projeto conta com o apoio da FISESP, Conib e B’nai B’rith- São Paulo e com recursos captados junto a empresários e amigos do Arqshoah. Este grupo se faz mobilizado pelo combate sistemático à intolerância valorizando a educação como uma das formas para a construção de uma cultura de tolerância e de respeito aos Direitos Humanos.

Os organizadores têm como proposta dar a conhecer a produção cultural dos artistas e intelectuais que, entre 1933-1945, buscaram refúgio no Brasil fugindo das perseguições nazistas e fascistas. Por tratar-se de um evento de rua aberto à população, optou-se pela reproduções de um conjunto de documentos e obras de arte representativas deste legado, hoje sob a guarda de importantes museus e bibliotecas brasileiros, além de coleções particulares.

Entre 1933 e 1945, desde a ascenção de Hitler ao poder na Alemanha e a promulgação das Leis Raciais na Itália de Mussolini, até o final da Segunda Guerra Mundial, entraram no Brasil cerca de 16 mil refugiados judeus, de diferentes
nacionalidades, fugindo das práticas antissemitas que culminaram no Holocausto. Há casos daqueles que ingressaram no Brasil na condição de católicos, estratégia adotada para romper com as dificuldades impostas aos judeus pelas circulares secretas antissemitas emitidas nos governos Vargas e Dutra. Neste contexto de intolerância
sem limites, os Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Cuba, México e o Brasil emergiram como “refúgios possíveis”, apesar das barreiras impostas pelos respectivos governos.

Centenas de cientistas, intelectuais e artistas judeus fugiram de seus países de origem por estarem sobre constante pressão dos aparatos repressores dos Estados responsáveis implementação de leis que os colocavam nas condições de párias sociais, “raças degeneradas” e indesejáveis enquanto “seres sub-humanos”, segundo terminologia empregada pelo discurso nacional-socialista, antissemita em particular.

Tanto as trajetórias de vida como as produções culturais destes grupos devem ser interpretadas sob o viés das emigrações forçadas marcadas pela violência, fome, pobreza, terror, desequilíbrio sócio-econômico e a morte premeditada. A exposição pretende mostrar acelerado das fugas em direção ao oeste da Europa, nas décadas de
30 e 40, implicando em grandes deslocamentos humanos em tempos de tragédia.

Entre mundos
Para a exposição “Entre mundos” identificamos um conjunto de obras de intelectuais e artistas de diferentes nacionalidades exilados ou radicados permanentemente no Brasil a partir de 1933. Como escritores ou artistas, eles
transformaram suas obras em uma crônica de sensações visuais e emocionais, emergindo de universo trágico para interferir diretamente no universo da criação.

Cada pincelada, traço, frase ou palavra formaram camadas coloridas de sobressaltos incorporados nas suas obras, fragmentos de histórias de vida cruzados com elementos da realidade brasileira. Acompanhando o espírito modernista dos anos 30 e 40, extraíram da paisagem e do quotidiano brasileiro a essência do caráter nacional, atraídos – estrangeiros que eram – pelo exótico, pelo popularesco e pelos “tipos brasileiros”. Viviam em mundos paralelos, pois jamais deixaram de lado sua trajetória de vida diversificada por suas origens e formação cultural européia.

Diferentes olhares e múltiplas versões foram arrancadas daquele mundo “cinzento” da guerra, projetando-se numa importante produção cultural sob a forma de verdadeiras metáforas. Opondo-se ao nazismo e ao fascismo europeus,
transformaram suas obras em instrumento de contestação social interpretando as ansiedades coletivas de uma nova era, pós-guerra. Refugiados no Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente, conseguiram através de suas obras denunciar os acontecimentos que abalavam a Europa. Como militantes pela paz mundial romperam com os dogmas acadêmicos, exigindo a liberdade de pensamento e protestando contra a guerra e a intolerância. Escrevendo, esculpindo, desenhando e/ou pintando exprimiram suas indignações diante do absurdo e dos horrores praticados pelos regimes totalitários e colaboracionistas. Mas nem sempre conseguiam livrar-se dos dualismos pois continuavam divididos entre o velho e o novo mundo, vivendo “entre mundos”. Percebendo a fragilidade da razão, procuravam por seus iguais para, desta forma, “estar-no-mundo”. Sentiam-se como seres incompletos, reduzidos a viver uma
crise existencial, nem sempre superada como aconteceu, por exemplo, com Samsom Flexor, Vilém Flusser, Stefan Zweig e Vieira da Silva, dentre outros.

Pesquisas e Trajetórias de vida disponíveis no site: www.arqshoah.com

Artistas plásticos (pintores, desenhistas, gravuristas, escultores):
AdinaWorcman, Alice (Czapka) Brill, Agi Strauss, Arpad Zsenes, Anguelova Wolf, August Zamoisky, Axl Leskoschek, Enrico Bianco, Eleonore Koch, Erich Brill, Ernesto de Fiori, Eva Lieblich, Faiga Ostrower, Frans Krajcberg, Hannelore Jacobowitz, Franz Josef Weissmann, Gerda Brentani, Gisela Eichbaum, Henrique Boese, Irmgard Burchard Simaika, Lise Forell, Liuba, Markus Mizne, Marietta Rosenthal Wagner, Mathilde Maier, Nydia Licia Pincharle Cardoso, Ruth Sprung Tarasantchi, Roger van Rogger, Samson Flexor, Walter Lewy, Zbigniev
Mariev Ziembinski

Fotógrafos:
Alice Brill, Curt Schulze, Fredi Kleemann, Gert Kornblum, Gertrude Atlschul, Hans Günter Flieg, Hejo, Heirich Joseph (Hejo), Hildegard Baum Rosenthal, Kurt Klagsbrunn, Peter Kurt Schreier, Stefan Rosenbauer.

Intelectuais, jornalistas, poetas, filósofos, demógrafos, historiadores:
Alfred Gartenberg, Anatol Rosenfeld, Anita Cevidalli Salmoni, Bruno Arcade, Carl Fried, Johann Anton Adler, David Markus, Frank Arnau, Ernst Feder, Ernest Koch, Frederico Heller, Fritz Oliven, Fritz Pinkuss, Fúlvia Di Segni, George Bernanos, Giorgio Mortara, Günther Ballhausen, Isaak Podhoretz, Hans Yitzhak Klinghoffer, Hermann Matthias Görgen, Herbert Lichtenstern Herbert Moritz Caro, Hubert Donat Alfred Agache, Johannes Franz Graf Huyn, Ilza Czapski, José Antonio (Hans Elsas) Benton, Karl Lieblich, Karin Schauff, Karl von Lustig-Prean, Leopold von AndrianWerburg, Lívio Túlio Pincharle, Louise Bresslau-Hoff, Malka Lorber Rolnik, Mathilde Maier, Marthe Leiser Brill, Max Hermann Maier, Michal Choromanski, Mirim Brik Nekrycz, Otto Heller, Otto Maria Carpeaux, Paula Ludwig, Peter Ludwig Berger, Richard Lewinsohn, Richard Katz, Stefan Zweig Susanne Eisenberg Bach, Tullio Ascarelli, Ulrich Becher, Susanne Eisenberg-Bach, Vilém Flusser, Wilhelm (Willy) Keller, Wolfgang
Hoffmann- Harnisch.

Músicos, musicólogos e compositores:
Felicja Blumental, Hans-Joachim Koellreutter, Elisabeth Ulrich, Ernesto Mehlich, Henry Jolles, Lene WeillerBruch,
Hans Bruch e Fritz Jank.

Curadoria:
Maria Luiza Tucci Carneiro

Pesquisas:
Blima Lorber, Carol Colffield, Claúdia Heinemann (Arquivo Nacional) e Tucci Carneiro.

História Oral:
Rachel Mizrahi e Laís Rigatto Cardilo

Equipe de Apoio LEER:
Miriam Rossi, , Lunara Moreira, Laís Rigatto Cardilo e Raissa Alonso.

Reproduções fotográficas:
Fernando Chaves (1996)

Digitalização, tratamento e impressão:
Glicê fone art e print

Programação visual:
Milena Issler e Paula Ruscio

Arte e Molduras:
Capricho Molduras

 

Lise-Forell

Lise Forell, Freizeitgestalung, óleo sobre tela, 50 X 60, 2000. Acervo da artista.

Lise Forel, autora desta imagem, nasceu em Brno (Tchecoslováquia) em 1924, onde testemunhou cenas de violência e maus tratos. Amendrontada, fugiu com seus pais e tios para a Bélgica e, de lá para a França onde conseguiram vistos com o embaixador brasileiro Souza Dantas. Partiram de Marselha em dezembro de 1940, mas foram presos e enviados para o campo de refugiados Sidi-El Ayashi em Casa Blanca (Marrocos). Libertados, vieram para o Brasil onde desembarcaram em 25 de setembro de 1941. Arqshoah/LEER-USP.

Mapa-Federico-Freudheim-1937
De Berlim a Montevidéo
Desenho de F. Freudnheim. 01.03.1938 a 30.11.1938. Acervo I. Freudenheim/Arqshoah/LEER-USP
Acervo Família Freudnheim

 

AXL-DEMONIOS
Axl Leskoscheck, Os demônios. Ilustração para o livro de Dostoiévski, 1940. Acervo Tucci/SP.

Ficha Consular de Axl Leskoscheck (1889-1976), austríaco, pintor, gravurista e professor, refugiado do nazismo no Brasil onde executou ilustrações para obras clássicas da literatura brasileira e portuguesa, num total de mais de duzentas xilogravuras, alem de aquarelas, óleos, lonóelos, pontas secas e águas fortes.Produziu 60 minúsculas xilogravuras para a obra Romanceiro Brasileiro, de Urich Becker, também refugiado no Brasil.

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Ruth Tarasantchi, Em Ferramonti, gravura, s.d. Acervo da artista/Arqshoah/LEER-USP.

Os biólogos Giorgio e Maria Schreiber, italianos expulsos da Universidade de Trieste pelas Leis Raciais de Mussolini, aguardam o embarque no porto de Trieste em direção ao Brasil, 1938. Acervo Tucci Carneiro/SP_Arqshoah/LEER-USP

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Alemães refugiados em Rolândia
Rolândia é um dos raros exemplos de grupos de refugiados no Brasil dedicando-se ao cultivo da terra, à criação de animais e comercialização de produtos agrícolas.
Entraram em Rolândia cerca de 400 famílias alemãs, sendo 80 de judeus que compraram terras no norte do Paraná. Fazenda Jaú, Rolândia, 1937. Reproduzido do álbum da Família Caldenhoff. Arqshoah/LEER-USP.

TEXTO DE APRESENTAÇÃO

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