“A Hungria ficará mais xenófoba e antissemita com a vitória de Orbán”. diz filósofa

O premier da Hungria conquistou neste domingo a supermaioria no Parlamento, para um terceiro mandato. Leia a opinião da sobrevivente húngara.

Ainda hoje, quando a filósofa húngara Agnes Ainda hoje, quando a filósofa húngara Agnes Heller aproxima-se do Danúbio, vem à sua mente as imagens de quando tinha 15 anos e viu outros judeus serem fuzilados e atirados na correnteza. Ela refletia sobre como evitar ser morta pulando no rio quando, por acaso, os nazistas húngaros interromperam a ação, levando os judeus de volta ao gueto internacional de Budapeste. Hoje, a ex-aluna de György Lukács, Heller observa com preocupação como o antissemitismo volta a crescer na sua pátria.

Ela vê mesmo uma tentativa de apagar a História, como a ameaça de fechamento do Arquivo Lukács pelo fato de ele ter sido um judeu marxista. Mas o pior, revelou Agnes Heller em entrevista ao Globo, é o regime autoritário. O primeiro-ministro Viktor Orbán controla 99% da imprensa, diz, mas parte da população está cansada da “democracia iliberal” e do debate diário contra os refugiados e os “agentes de Soros” propagados pelo governo. “Se os cinco partidos de oposição de unirem apesar das diferenças, há um raio de esperança, embora saiba que será muito difícil”.

“Orbán é um tirano. Democracia iliberal é uma outra palavra para regime de tirania. Sofremos com a falta de democracia e observamos como alguns se aproveitam do privilégio de ocupar o poder para enriquecer. Orbán, a sua família e os seus oligarcas roubaram de 20% a 30% do dinheiro transferido pela União Europeia. Outros 20% são usados para financiar os seus hobbies preferidos”.

“Em uma sociedade de massa onde não há mais luta de classes é possível manipular a população com ideologias. É possível combater fatos reais com fatos reais. Mas combater ideologias com fatos reais, principalmente o medo e o ódio, não é possível. Orbán disse que todos os partidos de oposição, jornalistas e organizações cívicas fazem parte de um complô internacional contra a Hungria liderado por (George) Soros. Como se pode responder a isso? Trata-se de uma mentira, uma mentira sem vergonha. Mas parte do povo acredita na mentira, e isso ajuda Orbán a aumentar a sua popularidade. Na sociedade de massa todos os partidos políticos são populistas, pois eles buscam uma maioria. Mas os partidos democráticos são os bons populistas, enquanto que os nacionalistas de extrema-direita são, na minha opinião, os populistas ruins”.

O Globo/Conib

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